Penso que é importante usar algum deste espaço para dar a conhecer um pouco das grandes mulheres da sociedade Portuguesa. É verdade, que a sociedade é uma sociedade dominada por homens, que muitas vezes fazem que as suas sombras ofusquem o papel importante que é desempenhado pela mulher na nossa sociedade. Por isso decidi, que seria interessante usar deste meio para dar a conhecer a realidade e celebrar estas mulheres de relevância na sociedade Portuguesa.
Desde mais, seria inevitável não falarmos de Florbela Espanca. Pode-se dizer que Florbela é um caso trágico na literatura Portuguesa, passando como um rastilho de pólvora, por isso deixando um marco importantissimo não somente na nossa literatura, mas na viragem do papel da mulher na sociedade Portuguesa. Florbela foi uma das primeiras mulheres a frequentar a escola secundária em Portugal, e mais tarde foi uma das catorze mulheres que foram aceites no curso de direito da Universidade de Lisboa. Podemos atribuir a Florbela o inicio da emancipação das mulheres na literatura no inicio do seculo XX em Portugal. A poetisa escreveu em varias formas, desde contos a poesia, sob um diário e epístolas. A maioria do seu trabalho foi publicado depois da sua morte, viste que teve algumas dificuldades de publicar seus livros durante a sua curta vida. A sua literatura torna-se como um canal de escape para com o seu delicado estado emocional. Ela, que nunca recuperou totalmente, de um aborto involuntario que teve e que durante a sua recuperação deu os primeiros sinais de transtornos neuróticos. Isto seria ainda mais agravado pela morte de seu irmão, por quem a poetisa era muito próxima. É evidente durante a suas obras a presença deste irmão. Florbela tentou o suicidio três vezes, não resistindo a terceira tentativa que acabou por terminar na tragédia da sua morte, precisamente no seu 36 aniversário. Apesar de uma vida conturbada e de uma vida cheia de altos e baixos emocionais, Florbela Espanca, privilegiou nos com a sua tão sofrida e sentida literatura, ao ponto de ser, hoje em dia, considerada como uma das mais importantes poetisas da historia da literatura Portuguesa. Por isso deixo-vos um dos mais célebres poemas desta autora que descreve o significado de ser poeta:
Ser Poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim…
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente…
É seres alma e sangue e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda gente!
Florbela Espanca, “Charneca em Flor”
Mauro Martins Antunes