No último poste falámos de Florbela Espanca e o papel que teve na literatura e sociedade portuguesa. Esta semana dando continuidade ao mesmo tópico, sobre a relevância da Mulher, na sociedade portuguesa, seria inevitável não falar de Beatriz da Conceição, mais conhecida por Beatriz Costa. O cinema português foi sempre um lado da sociedade que teve de lutar pela sua própria sobrevivência. Naturalmente, como sempre foi habitual, durante o século XX, quando havia qualquer tipo de crise financeira normalmente os sectores mais afectados são os da educação e da cultura. O cinema português é extremamente subestimado e consequentemente os seus actores também o são. Beatriz Costa, nascida em Mafra no início do século XX, começou a sua aventura no mundo do espectáculo com a terna idade de 15 anos. Estreou-se numa peça de teatro de Revista. Beatriz começa a desenvolver a sua carreira internacional com uma ida ao Brasil onde é fortemente aplaudida pela imprensa local. Beatriz Costa atuou ao lado de grandes e célebres actores portugueses como António Silva e Vasco Santana, especialmente no grande filme: A canção de Lisboa. Ela que ao lado de Vasco Santana foram eleitos como os príncipes do cinema português, foi sempre vista como um ícone, para além dos seus dotes artísticos, mas também pela a sua franja que lhe distinguia das restantes actrizes da altura. Em 1939, A Aldeia da Roupa Branca é produzida e é nesta produção que os feitos no cinema de Beatriz Costa são imortalizados. Este filme teve um impacto tão grande na cultura portuguesa, que até aos dias de hoje é usado como referência no estudo cinematográfico e até mesmo em publicidades para produtos de consumo familiar. Beatriz embarca na a sua grande aventura no Brasil no mesmo ano que o filme estreia, onde fica durante os próximos 10 anos, onde atuou maioritariamente no Casino do Rio de Janeiro. Voltou a Portugal, onde atuou maioritariamente em teatro de revista, e onde se despediu com apenas 52 anos de idade dos palcos em 1960. Ainda de notar, Beatriz Costa não contribuiu apenas com dotes na sétima arte, mas também contribuiu com artigos escritos para o jornal o Século e também com contributos musicais que viriam a ser publicados por EMI-Valentim de Carvalho. Duas ultimas curiosidades, Beatriz só aprendeu a ler e a escrever com 13 anos, quando sentada “á volta da mesa” no mítico café Brasileira, com Almada Negreiros, Vitorino Nemésio, entre outros grandes da literatura portuguesa; a outra curiosidade é que Beatriz Costa casou-se brevemente, (mais especificamente durante dois anos) com Edmundo Gregorian, que também era um poeta, escritor e escultor.
Deixou-vos com uma breve lista dos filmes que Beatriz Costa participou e que de uma forma ou outra a imortalizaram e também ajudaram a moldar a cultura e sociedade portuguesa:
A Aldeia da Roupa Branca, de Chianca de Garcia (1939);
O Trevo de Quatro Folhas, de Chianca de Garcia (1936);
A Canção de Lisboa, de José Cotinelli Telmo (1933)
Minha Noite de Núpcias, de E. W. Emo (1931)
Lisboa, de J. Leitão de Barros (1930)
Fátima Milagrosa, de Rino Lupo (1928);
O Diabo em Lisboa, de Rino Lupo (1926).
Mauro Martins Antunes